segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Para te dizer adeus

"Pra onde eu vou agora: livre, mas sem você.
Pra onde ir, o que fazer como vou viver.
E gosto de ficar só, mas gosto mais de você.
Eu gosto da luz do sol, mas choro agora sem você."
(Arnaldo Antunes)



Acordei cedo. Você ainda dormia, parecia um anjo, sua face revelava que tinha bons sonhos. A princípio, vendo você ali, indefeso, sereno, feliz, deitado na cama que escolhemos com tanta atenção, recarregando as energias que te arranquei na noite passada, quis desistir daquela ideia maluca de te deixar, e por um minuto, quis deitar ao teu lado outra vez. Mas no minuto seguinte me bateu a certeza, um mar de coragem invadiu o meu corpo e me ‘jogou’ pra longe do quarto.
Com cuidado para não fazer qualquer ruído, peguei minha mala e todos os meus vestidos que delicadamente enfeitavam metade do seu armário de camisas. Não resisti e peguei, pra mim, a sua preferida. Levarei comigo.
Vou sentir sua falta, sentirei falta de tudo: seu jeito, seus beijos, sua voz, seus olhos, seu sexo, seu cheiro, sua risada, sua estranha mania de inventar palavras, seu violão e as canções que fez pra mim, sua barba no meu rosto, suas mãos em meus cabelos, seu cheiro... Achei, talvez, que levando essa camisa azul desbotada, ainda teria você comigo.
Eu não queria estar arrumando as malas - sinto que já te amo perdidamente - mas é preciso. A culpa não sua, eu reconheço. Você é o companheiro que eu pedi a Deus, sempre esteve disposto a me ouvir e me acolher. Acontece querido, que nossas agendas têm sido muito traiçoeiras conosco. Elas não se batem. As semanas vão se passando e é cada vez mais frequente um de nós dois jantar e tomar café da manhã sem a companhia do outro. Você já tem muitas pessoas que te precisam, pelo visto, mais que eu. Não quero te dividir com ninguém, mas sei que não sou sua dona e, por isso mesmo, não me colocarei na posição de te pedir que esqueça seus amigos, suas férias, suas músicas, seu violão e todos os outros programas que você arruma, para somente sumir comigo por uns dias. Não sou mulher de implorar atenção ou de mendigar afeto. E antes que - por amor - eu me ponha na ridícula situação de pedir que suma comigo, preferi ser corajosa e sumir sozinha! Será melhor e mais fácil assim: partir sem te dar a chance de querer me convencer de ficar (eu sei que ficaria).
Será melhor...
Tratei de arrumar a mala com cuidado e bem rápido. Passavam das três, precisava ser rápida, o avião sairia às cinco. Tomei um banho gelado e fui à cozinha. Preparei algumas torradas e comi na companhia daquele delicioso suco de acerola que você sempre me faz[ia]. Liguei a cafeteira e a deixei passando um café para quando você acordasse. Na mesa deixei o bolo, o mamão, o pão e iogurte, como de costume. Só te faltaria o meu beijo, dali em diante.Voltei ao quarto e, da porta, ousei olhar-te pela ultima vez. Chorei calada e senti a dor que tua ausência provocaria em mim. Virei, encostei a porta e parti sem olhar pra trás. Deixando naquela casa, tudo que me fizesse lembrar os melhores momentos da minha/nossa vida.
Desculpa, mas eu precisava dizer-te adeus.

Leiam também: "Para te pedir pra ficar", por Fahad

23 comentários:

  1. É... apesar de todos os motivos que a mulher do texto deu, para não deixar seu amor, ela partiu...
    corajosa ela...

    Acho que se o amor chegou e vc o reconheceu, e é correspondido tem que ter muita coragem pra deixa-lo.
    beijos

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  2. Dá pra ver a cena do texto! Prova que foi muito feliz na construção... A mulher corajosa e amando mais. O figurante deitado na cama... até o quarto meio jovem com direito a violão... viajei!

    BRAVO!

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  3. Quando olhamos pra trás ficamos presos num passado e esquecemos de seguir em frente.

    Fernandinha, brigada pelas palavras lá no blog.

    Você é uma querida.

    Beijo imenso, menina linda.

    Rebeca

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    -

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  4. Ainda não consegui parar de usar as camisetas do colégio em que estudamos, (ele me deu todas)ainda não coloquei no fundo do baú as caixas com recordações, nem deixei de usar o colar que ele me dera com tanto carinho e deixando claro que eu era uma pessoa hiper especial... Só guardei os portas-retratos e os discos. É que ainda dói. E essas coisas, em especial, me rasgam a alma.


    Um beijo.

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  5. Mas há casos que a gente dá um adeus e logo mais vem o 'olá'. ;)

    Lindo, Fernanda. Teus escritos são lindos.

    Beijo.

    P.s: Fico feliz que tenha gostado do meu post. ;)

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  6. Fê,

    Sendo sincero. Não gostei. Não gosto de despedidas, elas machucam, quem as vive e quem as vê.

    E se fosse eu quem estivesse dormindo juro que ao acordar procuraria por ela até o fim do mundo.

    E aliás, isso me deu uma idéia. Passe lá pelo meu canto e veja.

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  7. o adeus é o princípio de começo. ninguém morrer de amor e ninguém tem um infarto pelo tchau. adeus é para os outros, oq importa é o eu começo!

    bjs!!!

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  8. Eu não gosto de despedidas, nem mesmo as depedidas caladas, mas o seu texto ficou muito bom!!

    Beijoos*
    Muito legal aqui! ;)

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  9. vc e mais um monte de gente ficou secando o mengão, mas n deu lá muito certo neh? hehehehehe

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  10. Eu não teria coragem para abrir mão de tanto. O amor é tudo e ao meu ver pode superar qualquer obstáculo.
    Beijos

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  11. fui primeiro no Fahad, mas que coisa linda, triste, mas linda.

    (:

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  12. Eu não iria... Essas histórias de despedidas irremediávelmente me remetem a Titanic (nada a ver, eu sei). Quando o Jack morre dá a mesma sensação desse 'abandono' que vc narrou, de "Lá se foi o amor da minha vida." :´(

    Lindo!

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  13. Oi Fê
    Add meu blog..
    como add o seu? nao sei ainda usar isso aqui direito...hihih
    beijos flor

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  14. Diga até mais mesmo se for adeus...

    Sempre me pareceu um contrassenso a coisa de amar e mesmo assim achar melhor ir-se. Hoje, depois de entender um pouco melhor a complexa dinâmica das relações amorosas, minha ideia disso não mudou muito; pois, se é amor, permanecemos presos a ele, e mesmo a distância é mero paliativo que não melhora nem a nossa situação nem a daquele a quem amamos. Mas preferem despedir-se que aceitar certas condições, e eu também compreendo, porque também sou cheio de sentimento de posse, então são sempre decisões muito difíceis de tomar e que estão isentas de qualquer juízo de valor, de maneira que não condeno o ato, embora não reconheça nele qualquer justificativa. É uma tragédia, afinal, e ante tragédias qualquer tentativa de justificar é falha e incompleta. Só não diga que é algo com que terás sempre que conviver, pois se assim fosse a vida fatalmente se tornaria clara enquanto uma experiência de merda (pois tudo cansa, um dia) que não vale a dedicação, o sofrimento e o peso que carregamos. Não há, então, que se acostumar com isso. Um acidente de percurso não é senão um acidente de percurso. É o que ocorre no conto, que foi o que mais gostei. Tás demonstrando muito mais maturidade na escrita, sobretudo nos momentos em que se põe a divagar entre razões e emoções sobre o que passou ou o que passaria, e foram os meus momentos preferidos no texto, a despeito das descrições puras e simples das quais não sou muito fã, mas que para o senso geral é o que determina o "escrever bem". Foi o seu melhor conto, em absoluto. Um beijo, a gente se fala.

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  15. Lembrei da letra do Moska: "vamos começar, colocando um ponto final, pelo menos já é um sinal de que tudo na vida tem fim".
    Nem que seja uma despedida de uma fase da vida onde outra recomeça.
    Que seja.

    Abraços

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  16. Nossa, me emocionei.
    Palavras de adeus são sempre tristes. Quanto ao tempo, ou a falta dele, sei bem como isso pode afetar uma relação, inclusive não deixando com que essa relação acontecesse - o que é o meu caso. mas vamos reconhecer o lado bom do tempo, ele passa e leva toda a dor embora, ficam só as cicatrizes.


    bjos

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  17. não há nada mais cansativo que o enem ¬¬' eu passei pra segunda fase aqui da ufc e da ufcg(campina), só q as duas vao ser esse fds, escolhi fazer ufcg, viajo amanha ^^

    o msn novo é euthiagoassis@hotmail.com

    e finalmente sobre teu post
    toda a sensibilidade que vc disse q estava tendo vc conseguiu transmitir nesse post.. muito lindo

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  18. Sera que precisava mesmo dizer Adeus?
    OLha que a dor de desistir é bem maior do que a de termos tentado..

    beijos e bom fim d semana!

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  19. por mais que doa, que machuque, que seja corrosivo, existe uma hora que a única coisa que temos que dizer é o adeus.
    é nessa hora que a boca fala o que o coração não quer...
    dói tanto, mas passa...há de passar!


    bjos

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  20. Você vai ganhar o mundo com tuas palavras!
    Vem evoluindo mais a cada dia.

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E só preciso de um rabisco seu, para então exitir!
Obrigada pela visita.
Beijo, de luz.