terça-feira, 29 de junho de 2010

"Eu, que não sei guardar, te guardei"



(...) Acho que eu tremia também.
E me beijou, depois, na boca.
Ou eu beijei ele, não me lembro.
Ou nos beijamos juntos, ao mesmo tempo.
[Caio Fernando]





Deitou-se, com esperança de dormir. Em vão! Seu pensamento não parava um só segundo, não conseguia interrompê-lo nem direcioná-lo para um outro espaço, um outro momento, para um outro alguém. Tudo o que tentou fazer não lhe trouxe resultados satisfatórios e por isso resolveu deitar. Como de costume, o notbook estava ao lado: aberto, piscando, em branco. Não quis responder ninguém, olhou esperançosa e não o viu por lá. Fechou tudo, ligou o som e pegou seu caderno. A música que passava tinha a voz dele, o coração acelerou de novo, fechou os olhos! Sentiu saudade daquele momento mágico em que passaram juntos: das palavras, dos sorrisos, dos dedos entrelaçando os cabelos negros, da barba mal feita espetando o rosto, do dedilhar delicado que ele tinha ao segurar o violão, da voz suave, da boca vermelha, dos beijos doces....
Abriu os olhos na esperança que fosse um sonho, mas não, olhou a cadeira e ainda estava lá o casaco azul que ele gentilmente ofereceu para aquecê-la.
"Por favor, aceita. Deixa eu cuidar de você" Ele disse.
Em silêncio, respondeu: "Eu deixo...".
Lembrava dos detalhes com tanto carinho que teve uma enorme vontade de ligar pra ele e revelar que nunca havia se sentido tão bem com alguém como se sentira naquela noite, à beira mar. Mas desistiu quando olhou o relógio e viu que já era madrugada; usou aquilo como desculpa para manter o que estava pensando em segredo, porém, no fundo, ela não queria mesmo ligar, morria de medo de parecer idiota.
Ele a deixava confusa, não conseguia decifrar seus olhos negros, jamais arriscaria dar um palpite sobre o que ele estava pensando. Era pra ela, uma incógnita. E não sabia, ainda, se deveria tentar desvendá-lo.
Prendeu sua atenção na música, aquela que cantaram juntos, lembrou do momento em que olharam o céu enquanto os rostos se tocavam e - quase que involuntariamente - voltou a rabiscar sobre amor.

12 comentários:

  1. Que liiiindo *-* amei o texto. O blog tá muito bom, parabéns. Estamos seguindo, beijo :*

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  2. "Quem não quis amar além do medo? E eu não vou tentar?"

    :D

    =**

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  3. Sempre uma incógnita rsrs, esse é o maior segredo =p

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  4. nossa , muito lindo mesmo. adorei .

    beijos :)

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  5. (c.)"Por favor, aceita. Deixa eu cuidar de você" Ele disse. (ótima passagem)

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  6. (c.)
    "Guardei...Sem ter porque. Nem por razão ou coisa outra qualquer...
    Além de não saber como fazer pra ter um jeito meu de me mostrar."

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  7. Como sempre Fê, seus textos me fazem sorrir e imaginar como seria bom passar por uma cena mágica como essa. Belíssimas palavras querida! ;]

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  8. As madrugadas são sempre motivos para deixar 'quase' tudo o que se pensa e o que se quer fazer em segredo ou para resolver depois...
    Quantas madrugadas passei em claro? Perdi as contas. As madrugadas perdidas me trouxeram maturidade que se adquire quando se aprende a esperar...
    Adorei a lembrança!
    Beijos.

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  9. Quando me prendi na frase de Caio F., que abriu este, imaginei que o texto dançaria em outro rítmo, algo completamente diferente. E fui escorrendo por entre tuas linhas tão desenhadas e suspirando essa saudade e me vendo, nas entrelinhas. Senti um riso involuntário manchando meu rosto quando li "Deixa eu cuidar de você". Se eu ouvisse, não demoraria a responder meu sim.

    Uma delícia esse canto aqui.
    Endereço anotado, saio sem bater. E volto.

    Um beijo.

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  10. Achei sem blog por acaso e adorei!

    Parabéns!

    Tomei a liberdade e estou te seguindo no TT.

    Beijo

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E só preciso de um rabisco seu, para então exitir!
Obrigada pela visita.
Beijo, de luz.